quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Rascunho

Era tudo tão pálido...
A esqualidez imoral da luz solar
banhava a vastidão vazia da vida,
derramava gotas de luz entre nuvens,
árvores, carros e pessoas,
manchando as sombras de meu caminho.
Cores liquefeitas embaralhavam-se
em meu olhar cansado,
confundiam o toque de meus dedos
que apalpavam-nas a sua procura,
de norte a sul a centro a sul e sul,
toque afoito na desesperança de não lhe ter
por um dia a mais que fosse,
por um segundo a mais que passasse
sentindo o suor frio escorrer por meu corpo.
E a palidez se dissipou aos poucos,
enquanto a distância desaparecia
afugentada pelo imponente céu azul
e adereços crepusculares inéditos,
dos quais coroei teu sorriso sincero
e teu abraço inquieto.
E foi tudo tão cálido...

sábado, 22 de outubro de 2011

Culpa

Todos queremos, todos fazemos.
Todos completamo-nos no desespero,
na arte exploratória da vida.
Cobiçamos o outro em pequenas doses
de alegria enegrecida,
de insensibilidade desumana.
Todos somos ávidos e famintos
em busca da inexistência,
e por entre raios de sol e nuvens de carbono,
covas rasas e mausoléus,
marginais e os marginais,
por entre linhas tortas e a história errada,
entoamos nossa óde ao genocídio.

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Dia de névoa

Tudo seria estranho, nesta primavera,
em dias enevoados e fúnebres
quando a vida queima e perece.
Nesta minha primavera,
tudo seria o não ser,
caso flores de delicado púrpura
não oprimissem o concreto
que se fez primavera
e os galhos mortos
pelos quais elas despontam.

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Abrigo

Da chuva, da neve, do sol, do medo,
dos estranhos, dos familiares, da família,
do bom, do ruim, do bem e do mal,
de tudo que pode ser real.

Sob meu abrigo, dizes calmamente
que o tempo podemos parar,
enquanto sonhamos com os males
dos quais te protejo.

Ah, se soubesses tu,
que de dentro de teu abrigo
queima a única existência
que o pode incendiar...

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Alegoria

Me apaixonei por palavras
que contavam de luzes e olhares,
não havia então remédio
que me livrasse destes pesares.
Tão livre, ah, tão livre...
Tao livre quanto jamais desejara ser,
dançava entre correntes
presas à beira do muro,
à beira do mundo...
milhares de anos margearam
a paixão e suas palavras
que como esquecidas em retratos
de cenas imemoráveis,
guardaram seu sorriso,
ah, seu sorriso fraseado,
dentro de mim,
em meus textos palavreados...

domingo, 27 de março de 2011

Entre a lâmina e o abismo

Entre a lâmina e o abismo,
entre as glórias e os orates,
sou humano, livre da culpa de pecar.
Falível - falido -,
a consciência fomenta o medo,
o medo tritura a alma,
a alma molesta o corpo.

Dedicadas a beleza perdida
de um mundo atrasado,
minha prisão de vidro,
minha proteção do tempo
e minha ética arcaica
despedaçaram-se em segundos.

Ente desprovido de direção,
sou exemplo incomparável
da teleologia mal construída.
Videiro da vida alheia,
a voz que ecoa em mim
suscita o ocaso...

Temo pelos bosques,
pelos rios e pelas crianças:
se sou esperança,
o que espero dos que não são?

quarta-feira, 9 de março de 2011

Inside my very mind

Veja, com "belo" e "anil" fazemos o céu gracioso. Sílaba por sílaba, letra por letra, desconstruímos sua vida e a mergulhamos nos seus sonhos ainda não sonhados, nas ilusões que se formam enquanto os olhos percorrem espaços de preto e de branco, ou amarelo, ou bege... Somos binários, como você. Existimos ou não, e tudo depende de sua disposição de explorar. Por entre as cavidades de seus olhos, sedimentamos bloco por bloco das imagens mais inesquecíveis que poderia conhecer: já andou em hipopótamo e já visitou o inferno, já foi à inquisição e às guerras mundiais. É, portanto, quando deseja, detentor do mundo, desde que pague o devido preço a mim, interrogação, e minha parceira - a exclamação. Somos nobres, damos muito e pouco cobramos. Diria que apenas seu tempo, e uma utilização hoje excêntrica dele. Somos conteúdo e novidade, informação e inovação, conversa e romantismo - ou realismo, parnasianismo, modernismo, ismo, ismo, ismo... Palavras mortas que dão origem a palavras novas, palavras que contagiam todos nossos sentidos e nos fazem covardes, corajosos, humildes e prepotentes em menos de um dia. Conosco, você é tudo.
Você, ignorante deve ser se de nós quiser desfrutar. Você é o leitor.
Damo-lhe dicas: uma interrogação não nasce em si própria, e sua exclamação não vem da mente alheia.
Uma interrogação é quase sempre desconhecida e uma exclamação, inexplorada.
A interrogação percorre o mundo, de prateleira em prateleira, para chegar à todas as exclamações que conseguir.
Somos essência.

Apresentamo-nos pois seria demasiada falta de educação não o fazer. Sou autor e esta é minha parceira: sua imaginação.

quarta-feira, 2 de março de 2011

Poema da triste lua

Se a alma aparece por entre teus olhos,
tens a mais perfeita existente,
e em teus mares luminosos
afogarei meus brilhos sujos...

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Toda a felicidade

Um ponto de luz brilhou no céu,
atraiu sua atenção e lhe roubou a alma.
Cansaço e perplexidade
ferem-lhe o corpo,
a voz adormecida desintegrou-se
em pedaços do sonho assistido
por maquinarias e informações,
seu desejo é o consumo
de tudo que não me faz sentido...
O ponto de luz brilhou no céu,
acima de nossas cabeças,
mas não foi uma idéia brilhante.
O ponto de luz foi a felicidade,
e nossa felicidade
é a programação neurolinguística.

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Porques...

Porque meu amor não é o maior do mundo. Nem meu sorriso o mais sincero. Porque meu medo não congela, apesar de me fazer passar frio. Porque tudo que quero se resume apenas naquilo que não conheço. Porque os dias passam rápido, devagar ou ordinariamente, independente de quem me rodeia. Porque meu humor é volátil. Porque não sei fingir que meus olhos não se tornaram pedras. Porque sei que meu melhor amigo repousa entre páginas amassadas e sua neurose se permeia por meus tendões. Porque nada ao meu redor poderia ser mais meu do que a ideia de que tudo possuo. Porque decido por tudo que jamais será acatado por minha consciência. Porque sangro por entre os dedos, cada vez que me percebo incapaz de sangrar. Porque encontro em estilhaços do céu minha paz, com toda a devida precaução dos pronomes possessivos...
Porquês eu escrevo.

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Ânsias

Os dias são livres,
mas não mais vemos,
nos subúrbios de nossas memórias,
os fragmentos de nossas vidas.
O caminho para casa desintegrou-se,
junto com seu sorriso,
com os relatos de onde estava eu
quando da visita ao purgatório.
Ansiei por seu retorno.
Ainda anseio...