domingo, 22 de julho de 2012

Vergonha


Desconstruo o mundo com sorrisos
que há muito não são meus
e epitomizo seios e corações
em gestos de extinta satisfação.
Interpreto miados e latidos
discutindo com som de chuva,
converso com almas e paredes
cada momento acordado
para chegar enfim ao alívio
divino do adormecer.

Tão divino, quando durmo
padeço da observação inquieta
dos traços menos desejados
do meu mundo em implosão,
mas tudo é perdoado, pois
quando durmo sou abençoado
com o esquecimento
de meus sonhos e do mundo,
sou desconstruído entre a cegueira
e minha ambivalência virtual,
vomitada em linhas sem sentido.

segunda-feira, 9 de julho de 2012

Tons de negro


Uma olhada na porta do labirinto:
um passeio pela beira do abismo.
Um rio repleto de arrependimento,
um caminho que já não tem mais volta.

Um dia, umas horas, um almoço ou uma noite.
Pouca soberba esbanjando falta,
uma gana reprimida e afastada,
uma culpa por não fazer nada.

Umas frases um tanto randômicas,
um compasso tão descompassado.
Um exemplo bastante ruim,
e um final quase que inesperado.

sábado, 7 de julho de 2012

Redenção


Que é que encontra meus olhos
neste entardecer nublado
que os faz brilhar em frágil
e calmo contentamento?
Que toque é esse, que de etéreo
parece-me inexistente,
que de perfeito se faz
tão grotesco e tenro incômodo?
Quero libertar minha alma,
encontrar-me entre as correntes
de teu cheiro e teu sorriso,
no cárcere de teu olhar
apodrecer através
de anos e anos e anos e anos.
E onde foi que te escondeste?
Minha terna redenção
esticou suas pequenas
asas, soltando as penas
que acariciam meu rosto
com angelical cuidado,
e partiu, sem deixar rastros.