segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Sem pé nem cabeça

Sim, ela estava bem louca...
Ensandecida, de pedra,
tão para lá de Bagdá
que alienista nenhum
sonharia em resolvê-la.
E de lá, do cimo de
sua insanidade jocosa
indagou-me, de uma vez:
sobre que escreves tu, louco?
Para o que, um tanto assustado,
respondi num só reflexo,
este ímpeto de tão má e
perplexa sinceridade:
Não faço a menor ideia.
Ela sorriu, com seus dentes
manchados com tarjas pretas.
Então só escreve, rapaz.
E este foi o melhor conselho
que um sujo já deu ao seu par,
aquele outro mal lavado.

domingo, 20 de outubro de 2013

Versos de rejeição

Todas aquelas noites solitárias,
quando nossas asas doíam demais
para alcançar quaisquer relentos,

já têm seus obituários prontos?

Vendemos histórias cujas morais
nunca sequer cogitamos para nós
e as publicamos em lápides singelas
de sentimentos natimortos.

No meio do caminho, entre um porém
e um entretanto, por ali, aprendemos.

Transformamos epitáfios sinistros
em inspiração neófita nesse mundo
tão cheio de ideias aleatórias:
em amores eternamente declarados.

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Halfman

Look there, there's half a man
stranded in between invisible lines
he used to ride as he would.

Would that his words mattered
but only enough to straigh him
back to that old lane of his...

domingo, 25 de agosto de 2013

Futuro revisitado

Construí alguns sonhos inexatos
em espaços vazios do meu futuro:
eram feitos de carvão e caprichos.

Um belo desfile de alegorias
e clichês dos mais variados,
mas eles se atrasaram, de repente,
e, de repente, não soube o que fazer:
tinham data e horário marcados,
tinham imprecisões cansadas
e apressadas a trabalhar incessantemente,
tinham dores nas lombares
e naqueles malditos ciáticos e lutavam,
lutavam desastrosamente contra
os ventos do destino, tão opressor,
que os transformou neste escroto
discurso extravagante - violento
contra as métricas e o ritmo -,
oco, empolado, engasgado numa gargante
esgotada, revoltada, puta e cansada
de tanta estética de mentira
se impondo a quaisquer sonhos que ousamos sonhar para transformá-los nesta espera servil pelo próximo

pesadelo.

sábado, 10 de agosto de 2013

Normal

Mais vezes sim do que não,
certo é desaparecer.
Talvez queira, talvez não,
talvez seja menos claro
do que algo pra por a mão,
mas há dias complicados,
há vozes que não se vão,
há tempos dilacerados
sem porquês pra essa tensão,
e tanta coisa faltando,
bolhas de ar no coração...

segunda-feira, 10 de junho de 2013

Fado

Desespero iminente da indagação:
por que toda voz que canta aqui
congela todo e qualquer verão?