domingo, 20 de outubro de 2013

Versos de rejeição

Todas aquelas noites solitárias,
quando nossas asas doíam demais
para alcançar quaisquer relentos,

já têm seus obituários prontos?

Vendemos histórias cujas morais
nunca sequer cogitamos para nós
e as publicamos em lápides singelas
de sentimentos natimortos.

No meio do caminho, entre um porém
e um entretanto, por ali, aprendemos.

Transformamos epitáfios sinistros
em inspiração neófita nesse mundo
tão cheio de ideias aleatórias:
em amores eternamente declarados.

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Halfman

Look there, there's half a man
stranded in between invisible lines
he used to ride as he would.

Would that his words mattered
but only enough to straigh him
back to that old lane of his...

domingo, 25 de agosto de 2013

Futuro revisitado

Construí alguns sonhos inexatos
em espaços vazios do meu futuro:
eram feitos de carvão e caprichos.

Um belo desfile de alegorias
e clichês dos mais variados,
mas eles se atrasaram, de repente,
e, de repente, não soube o que fazer:
tinham data e horário marcados,
tinham imprecisões cansadas
e apressadas a trabalhar incessantemente,
tinham dores nas lombares
e naqueles malditos ciáticos e lutavam,
lutavam desastrosamente contra
os ventos do destino, tão opressor,
que os transformou neste escroto
discurso extravagante - violento
contra as métricas e o ritmo -,
oco, empolado, engasgado numa gargante
esgotada, revoltada, puta e cansada
de tanta estética de mentira
se impondo a quaisquer sonhos que ousamos sonhar para transformá-los nesta espera servil pelo próximo

pesadelo.

sábado, 10 de agosto de 2013

Normal

Mais vezes sim do que não,
certo é desaparecer.
Talvez queira, talvez não,
talvez seja menos claro
do que algo pra por a mão,
mas há dias complicados,
há vozes que não se vão,
há tempos dilacerados
sem porquês pra essa tensão,
e tanta coisa faltando,
bolhas de ar no coração...

segunda-feira, 10 de junho de 2013

Fado

Desespero iminente da indagação:
por que toda voz que canta aqui
congela todo e qualquer verão?

domingo, 26 de maio de 2013

Eita que se foi sem querer

Eita que a porta fechou.
Mas fechou mesmo?
Olha lá, porta fechada,
vento barrado, cabeça suja:
vassoura e rodo desaparecidos.
Eita que fechou mesmo,
com tanto vento pra entrar,
tanto calor pra sair,
tanto pó para espalhar.
Fechou por dentro ou por fora?
Fechou sozinha, guri:
a porta da rua é serventia da casa,
e sabes que nunca mesmo
quiseste o contrário.
A porta da rua é serventia da casa...
E o que for pra longe da visão,
dona, vai ficar no coração?
Não, não vai. A porta fechou,
e com o espaço do batente
trouxe o sentimento que,
longe dos olhos,
o coração não sente.

domingo, 21 de abril de 2013

Polirritmia

Lavei minhas mãos, com cuidado,
e me deixei assistir as luzes,
vítimas deste sono holístico
que assombra o horizonte.
A última restou mais que deveria,
a última é a que foi esquecida.
De minha colina mais alta,
vejo o perfil dos prédios
tingir-se com luzes liquefeitas
de cores variadas, verdadeiras,
ilusórias e esperançosas,
também tristes pela mesmice.
Nesse padrão, feito de divindades
e betão, tudo era igual, sempre.
Até que um dia me disseram
que tudo era tão rápido,
que era eu o atônito,
que o mundo mudara
e já não restava paciência
nos dedos vorazes
a bolinar o interruptor.

domingo, 24 de março de 2013

Silêncio

Ei, você, filho do tumulto,
já ouviu falar do silêncio?
Para você não é aquele
absoluto e enlouquecedor,
não é o silêncio de ser
e estar imerso no vácuo.
Para você é a ausência
daquelas vozes que tanto
lhe perturbavam quando
reclamava de tudo
e vivia num Paraíso
feito de tijolos podres,
carinho e discussão.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Tudo foi falado


Sentei-me ao seu lado:
não tinha cheiro algum.
Assisti-a, cabelos
dançando enquanto comia,
olhos furtivos quando
falava, falava pouco...

Na minha frente,
sentava o poliglota.
Falava de Lyon e
falava de falar francês, e
falava de falar espanhol, e
falava e falava e falava...

"Eu só falo inglês..."
Disse minha bela, tímida.
"Eu mal entendo português."
Dividimos um sorriso,
sincero como poderia ser,
e guardamos a cumplicidade
para qualquer hora depois.

domingo, 3 de fevereiro de 2013

Gama


Guria, essa tua mão
delicada jamais tinha
de se apoiar em paredes
tão sujas, tão sujas, tão...
Esses teus braços esguios
deviam estar ao redor
de meu corpo e só meu corpo...
Diga que não adoras quando
me dás a mão e brinco com
teus dedos, dou leves tapas
em teu corpo que me aquece
as mãos, as pernas e o peito,
te enrubesces toda meiga
com meu suor sobre ti.

Menina, te quero tanto.
Quero que pares de olhar,
quero que perca-te em meu
colo e me deixe levar-te
novamente por caminhos
aqueles lindos e estranhos
que antes já cruzamos juntos.

Menina, sabes que minha
dedicação é limitada,
que meu corpo não te aguenta
como antes, mas mesmo assim,
meu desejo é te carregar
por todo lado, sujar-me
contigo, dançar contigo,
limpar teu corpo suado,
trocar tuas roupas sem cor,
dedilhar teus lindos braços,
perder-me completamente
em teus gritos e gemidos.

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Saudades

Foi hoje que percebi:
em São Paulo, não há
dia nublado sem garoa,
marginal sem acidente,
sorriso sem depressão,
esta sem exposição,
sol frio sem nuvens,
árvores sem vida,
asfalto sem buracos,
um sem o outro.
Dia sem fúria,
noite sem medo,
eu sem saudades.

sábado, 26 de janeiro de 2013

Untitled


Sometimes, child...
Falling in love seems
as far as the stars,
as possible as if...
If they'd crumble
on their heavenly paths
and fall upon our heads,
as real as eternal.
Sometimes, little one,
you'll let yourself
die in strange arms
for your heart's ran
out of blood and
all you seem to need
is someone to cringe
at the sight of your
fake and bored smile.
Sometimes, my dearest,
I will face your fears,
and let myself go
to protect your eyes,
eyes made of gold,
eyes made of naiveness,
eyes made of the times
I'd bleed away
just to be alive.

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Cassiopeia


Já não posso mais acreditar
em tua resolução de voltar,
todos os dias, respirando...
Expirando teu hálito quente
entre o pescoço e o peito,
aquecendo meus pés gélidos
e um coração tão longíquo.
Inspirando meus olhares,
minhas músicas e minhas letras,
meus sorrisos e minhas lutas.
Por que resolveste recostar-te
em minhas costas e meus braços,
após abandonar sem dó
meu corpo suado frente a ti,
de lábios cortados de saudade
e a cabeça no esquecimento?
Pois já não faz mais sentido,
essa tua beleza sem razão,
teu corpo de curvas e calor,
teus assim tão radiantes:
voltarem-se a mim
nunca fez sentido.

sábado, 12 de janeiro de 2013

Nuage


E o bêbado anunciava,
tocando através de nuvens
eras que nunca viu:
"Vendo meu destino!
A qualquer uma que compre:
qualquer par de seios
no qual possa repousar!
Quaisquer pernas firmes
para ser prenha saudável!
Vendo minha vida, barata!
A qualquer uma que permita
meu copo em minhas mãos
e meu sorriso no meu rosto!
Vendo meu destino!
A qualquer resposta,
monossilábica que seja,
a meu aceno pretensioso.
Vendo meu destino...!"
Passos cruzados, ruas
ladrilhadas sem esmero,
saiu da geração perdida
para a geração do silêncio.

domingo, 6 de janeiro de 2013

Desrespeito

Corpo e alma desalinhados,
passo os olhos por linhas de fogo:
alimento a escoliose espiritual.