sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Anil


Tenho um punhado de sonhos e minha eterna misantropia a combater. Alguns deles são toscos, pitorescos e infantis. Outros, são somente arquétipos de uma satisfação que nem mesmo sei se quero satisfazer. O grande problema, querida, é acordar todo dia e encarar post-its virtuais colorindo a janela e a parede do quarto com as notas de tudo que deveria ter sido feito - por mim.
Uma olhada rápida no espelho me faz perceber que sou perfeito, e um segundo a mais basta para esculpir olheiras fundas no mármore sujo de meu rosto, corroído pelo espírito em putrefação que mantém a estátua viva. Outro segundo desenha com esmero as linhas da idade que nunca vou ter, enquanto caricias infindas transformam minha superfície em pó.
Em vias congestionadas, entre o que poderia ser e o que jamais será, a realidade se constrói ao meu redor num piscar de olhos, estes que, cada vez que são fechados, retornam as imagens das obrigações de realizar sonhos. Meus sonhos são correntes que me prendem no cárcere de meu corpo. Minha vida é minha condicional. Alguém deve ser minha liberdade...

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