Ela chorou quando caiu finalmente em si. Ele, imóvel, encarava o teto, de braços cruzados, sentindo as mornas lágrimas serem derramadas sobre sua face. Todos seus desejos haviam se condensado num momento amorfo dissipado entre seus dedos quando foi agarrado. Os dois eram um dividido por dois, e todos sabem, meu amigo, que cortar um em dois não forma dois uns. A mão dela apertava a dele, inerte. Por mais que fosse triste, para ele tudo era somente insípido. A maquilagem borrada pela água salgada, as roupas pretas, as cabeças abaixadas.
O desprezo nos olhos do homem pálido era compensado pelo arquétipo mal formado de amor nos dela. Ele também estava de luto, só não entendia o porquê. Ela era tanto e tão insignificante ao mesmo tempo. Ele enxergava ingratidão nos olhos dela. Ela enxergava medo nos dele. Ela segurava, ele desvencilhava-se sem se mexer. Ela queria desaparecer no vazio de seus sentimentos. Ele havia desaparecido. O tempo é inseparável da vida, mas o contrário não é recíproco. Ele é o tempo, ela é a vida. Ele a acompanha, de longe, olhando os tropeços e as aberrações. Ela se apega ao que conhece e o teme, pois ele veio, vem e sempre virá.
Mas o tempo passa, e quando a vida percebeu, já havia passado tempo demais, meu amor.
Quando a vida percebeu, o tempo era de outra vida.
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